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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Queria viver no mundo do Chaves...

“Um mundo onde uma criança moradora de rua vive feliz; onde um inquilino sem condições não é despejado por não pagar meses de aluguel, que nem por apanhar freqüentemente, levanta a mão para uma mulher; onde crianças brincam no pátio sem se preocupar com algo que possa vir a acontecer; onde a diversão na TV é um simples concurso de miss ou o filme do Pelé, sem o sensacionalismo e a putaria atual; onde uma vizinhança inteira que mesmo com suas diferenças e discuções, conseguem demonstrar carinho em uma viagem para Acapulco, ou no dia de San Valentin; onde um carteiro não é atacado diariamente por cachorros; onde não há uma demonstração de racismo ou qualquer outro preconceito; onde um ladrão rouba apenas um ferro de passar e depois o devolve; onde existe humildade a ponto de uma celebridade pedir um macaco emprestado; onde a única pessoa que anda armada é com uma marreta biônica e a única droga consumida são pílulas de nanicolina.”
Autor Desconhecido


O post de hoje é quase dedicado a uma comunidade do Orkut. O título da postagem e o texto acima são respectivamente título e descrição de uma comunidade do Orkut que já possui quase 18 mil membros.
Qualquer um que tenha sido uma criança padrão das ultimas 2 décadas, cresceu se divertindo diariamente com a vida de um menino de rua que todos os dias esquece todos os seus problemas e faz algo que comentei nos dois últimos textos publicados: Ele simplesmente vive sua vida. Sem carregar rancores do passado e nem antecipar sua juventude com os problemas da maioridade.
Talvez nesse mundo o “Garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones” não tivesse ido fazer a guerra. Porque no mundo do Chaves a guerra não existe. Mas no mundo real ela existe. E não existe sozinha, nem por si só. Ela existe junto com todas as suas causas e seus efeitos. O primeiro deles é o preconceito. E é a ele que eu vou me ater mais aqui hoje. É de praxe uma professora de filosofia entrar numa sala de Ensino Médio no seu primeiro dia de aula e fazer a seguinte pergunta: “O que é mais importante: Ter ou Ser?”. Nunca eu vi ninguém se atrever a responder que o mais importante é ter. Isso, sim, é um modelo de sociedade. Nessas horas eu me orgulho do sistema social que nós vivemos. É lindo ver uma classe superlotada, com mais de quarenta estudantes se espremendo na disputa por um espaço, onde todos têm a melhor resposta na ponta da língua: “O mais importante é ser, professora! Como não seria? Estou certo disso. O mais importante é ser.” Na verdade, o ter ou o ser pouco importam para as grades da prisão. Uma prisão que se traveste de liberdade. “Somos Livres” dizem os tolos. E de fato somos. Somos livres pra acreditar naquilo que quisermos inclusive no conceito de liberdade que mais nos agrada. E ai dos que desagradam esta senhoria chamada Sociedade. Nossa sociedade vive uma liberdade pelas bandas. Somos livres para Ter, mas não somos livres para Ser. Talvez isso aconteça porque o Ter é limitado e condicionável. Enquanto o Ser simplesmente é.
Poucos são aqueles que olham para um mendigo a rua e vêem o que há por trás dele. O “sistema” que o obriga a estar ali. Se é que ainda posso falar em sistema. Se esse termo ainda não se tornou obsoleto. Este mesmo “sistema” contra o qual milhares de jovem resistiram na década de 70. É um sistema cruel e impiedoso. Nesse momento, acredito que só vê assim quem algum dia de alguma forma sofreu com ele. São esses quem vêem que o menino de rua, se tivesse escolha, talvez não escolhesse ser “um problema social”. E ainda tem os que dizem que os pequenos “problemas sociais” que vemos todas as noites dormindo na rua, estão pagando por seus pecados. Eu, mesmo não sendo um exemplo de compreensão social (e digo isso porque por muitas vezes também me pego julgando-os pela aparecia), prefiro crer que cada situação de diferença social que vemos é uma oportunidade que temos de fazer o bem e evoluir um pouco mais.
Acredito que é assim que temos a oportunidade de viver no mundo do Chaves. Mas não no mundo cenográfico construído por alguém que nem passa por ali com muita freqüência. Nossa oportunidade de viver no mundo do Chaves, é de construir esse mundo novo com nossas próprias mãos. E para isso estão todos convidados a entrar na luta que é diária e se dá nos pequenos e grades gestos de bondade que mostram que o homem pode, sim, ser bom por natureza.

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